quinta-feira, 24 de março de 2011

Movimentos Sociais Identitários e o direito a diferença - Alguns pontos a partir do CONAE

"De cada um, segundo suas possibilidades.
A cada um, segundo suas necessidades"
Kropotkin

Lendo o documento do CONAE, pensando sobre o Eixo VI, em que se pauta a importância que tiveram os movimentos sociais na conquista do direito a diferença, fiquei pensando sobre a militância que tive no movimento GLBTT e que tenho no movimento feminista, e toda a relação que temos com a questão da identidade. A identidade permeia todos esses grupos, porque nos reconhecer enquanto portadores de características semelhantes que nos colocam numa condição de dominados, nos permite ver quais direitos nos são negados e quais direitos precisamos exigir.
Para mim, tem sido um tanto desafiador pensar em abrir mão da identidade. Se os "diferentes" - ou melhor, se aqueles que têm diferenças que os desvalorizam na lógica de nossa sociedade, porque, afinal, diferentes todos nós somos - não tivessem assumido suas diferenças, batido no peito e dito "sim, somos mulheres", "sim, somos negros", "sim, somos gays/lésbicas/travestis/bissexuais/transexuais", "sim, somos surdos", "sim, temos dificuldade de aprendizagem" como desconstruiríamos a imagem pejorativa que se faz de nós? Se não assumimos nossas características como sendo características, nem melhores nem piores que qualquer outra, por onde lutar pelo direito de ser diferente?

Isso não quer dizer que devamos educar através da diferença, no sentido de imaginar uma educação que tenha como pressuposto ser "para um surdo", "para um negro", etc, mas sim que a identidade, enquanto aglutinador de pessoas que reivindicam direitos, pode ser sim uma classificação interessante enquanto reconhecimento da nossa condição.

Reconhecer a identidade, para mim, faz parte do processo de valorizar a diferença, e visar superar as relações de poder de dominação é fundamental. Sem o reconhecimento da identidade, eu não consigo imaginar um movimento social de libertação das opressões que se construiria.

A educação pode ser um interessante campo para iniciar essa superação. O documento do CONAE me pareceu muito razoável nesse sentido. Mas o que eu me pergunto é quando o Brasil vai parar de fazer lindos documentos que nunca são levados a sério e começar a investir realmente para botar em prática os documentos...

2 comentários:

  1. a não ser que tenha citado Kropotkin, a epígrafe é do Marx:

    "Numa fase superior da sociedade comunista, depois de ter desaparecido a servil subordinação dos indivíduos à divisão do trabalho e, com ela, também a oposição entre trabalho espiritual e corporal; depois de o trabalho se ter tornado, não só meio de vida, mas, ele próprio, a primeira necessidade vital; depois de, com o desenvolvimento omnilateral dos indivíduos, as suas forças produtivas terem também crescido e todas as fontes manantes da riqueza co-operativa jorrarem com abundância — só então o horizonte estreito do direito burguês poderá ser totalmente ultrapassado e a sociedade poderá inscrever na sua bandeira: De cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades!"

    em "Glosas Marginais ao Programa do Partido Operário Alemão"

    http://www.marxists.org/portugues/marx/1875/gotha/gotha.htm

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  2. Oi Bernardo!
    Essa epígrafe eu conheço como sendo do Kropotkin, por mais de uma fonte, embora já tenha lido também como sendo do Marx. Mas siceramente, vi mais citações com essa frase atribuindo-a ao Kropotkin que ao Marx...
    ENfim, eu acho a frase interessaante independente de quem a tenha escrito pela primeira vez...

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