quinta-feira, 31 de março de 2011

Deficiência e medicalização da vida

Lendo o documento "POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA", achei interessante comentar que o processo de inclusão, como referido no texto, vai contra um processo complicado e diretamente relacionado com a exclusão (não só escolar) que vemos intensamente nos dias de hoje: a medicalização da vida.
A perspectiva de ver os portadores de deficiência(e eu deixo registrado aqui que não sei qual termo é o melhor para ser usado; aceito broncas em relação a isso, se estver errado) como "menos capazes" e "fora do padrão", como "não-saudáveis", que ainda reina entre muitas cabeças(inclusive na minha, que tem começado apenas o questionamento sobre essa forma de ver discriminatória) é legitimada por um discurso médico de padronização do ser humano, que foca no "imperfeito", colocando um padrão artificial de uma única forma e um único ritmo de aprendizagem. E sempre é caracterizado na medicina de hoje como o "saudável" aquele que produzirá mais, o sujeito que aprende numa velocidade x, não sente dor(nem a dor na nossa sociedade é permitida!), o sujeito que à máquina se amolda, que não precisa de instruções em braile nem pensa rápido demais. Tudo o que for fora desse padrão, dos hiperativos aos cegos, tem isso como marca, impressão na testa, e claro, um remedinho ou um tratamento caríssimo por trás - que move uma industria bilionária que se nutre como um abutre da doença estigmatizada, a indústria farmacêutica.
Colocar as deficiências numa perspectiva de diferença humana, como algo que está em alguns sujeitos como tantas outras coisas que neles estão, e não rotulá-los e estigmatizá-los, rompe essa lógica nefasta, na qual um diagnóstico médico diz quem é ou não capaz de aprender.
O documento aponta melhoras numéricas importantes, principalmente de acesso à escola. Mas ainda falta muito para a inclusão se dar de maneira satisfatória, porque o "deficiente diferente" move muita grana.

Um comentário:

  1. Interessante a problematização que você faz baseando-se na abordagem médica da educação especial. Infelizmente, ainda vemos que a educação inclusiva é encarada, em muitas instituições de ensino regular, como um atendimento clínico especializado no interior da escola, e não como atendimento educacional. O que me questiono é como testes psicométricos podem definir as práticas escolares ideais para serem adotadas com alunos com deficiência. Está mais do que na hora de diferenciar aquilo que é médico e que necessita de tratamento e diagnósticos daquilo que é propriamente educacional.

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